Por muito que deixe clara sua satisfação por
estar de volta à Seleção, quando fala a respeito disso o
lateral-esquerdo não abre mão de manter um tom de seriedade; um discurso
de quem sabe que a missão está só no começo. Um tempo atrás, afinal,
ele estava perto de disputar seu primeiro Mundial – bem mais perto do
que está hoje – e viu o sonho ruir por sua própria culpa, como admite
hoje com placidez.
“Eu cometi erros. Foram sobretudo questões de distração: quando você
está na Seleção, tem que se concentrar ao máximo, o tempo todo, porque
há milhares de jogadores que desejam aquela vaga”, comenta o gremista em
conversa com o FIFA.com. “Eu não me dei conta disso e
não tive a mentalidade necessária, tanto taticamente quanto fora de
campo – com pisadas na bola, brincadeiras fora de hora. Aprendi essa
lição e hoje acredito que posso chegar mais forte para tentar ir à
Copa.”
Em 2009, após um primeiro semestre impecável, quando conquistou o Campeonato Paulista e a Copa do
Brasil
com o Corinthians, André Santos foi chamado pela primeira vez para a
Seleção Brasileira. E não uma convocação qualquer, mas já para duas
partidas de eliminatórias da Copa do Mundo e também para a Copa das
Confederações. Na África do Sul 2009, foi reserva de Kléber na estreia
diante do Egito, entrou na segunda etapa e, a partir dali, não perdeu
mais a vaga de titular no caminho até o título.
Estava
tudo encaminhado para retornar à África do Sul no ano seguinte, até que
veio a tal falta de concentração fora do campo. Sobretudo uma: na
penúltima rodada das eliminatórias, em outubro daquele ano, em La Paz.
André Santos se distraiu, confundiu o ponto de encontro no hotel e
perdeu o ônibus que levou a equipe até o estádio para a partida. Como
ele próprio diz, havia gente na fila à busca de uma ocasião. Nos meses
seguintes, perdeu espaço para Michel Bastos, que foi quem Dunga acabou
levando para a Copa do Mundo do ano seguinte. E assim, da maneira mais
dolorida, André aprendeu a lição.
Lateral, mas lateral mesmo
Isso tudo dá conta da parte extracampo, mas hoje, aos 30 anos e
depois de quase quatro no futebol europeu, André Santos também melhorou
dentro do gramado – ou em como se posicionar dentro dele. Porque jogar
bola o paulista sempre soube: a habilidade para se juntar à equipe no
ataque é, reconhecidamente, seu forte. Mas, afinal, sendo um lateral, o
que se espera dele é antes de tudo presença defensiva. E foi assim
principalmente no Arsenal, clube que o comprou junto ao Fenerbahçe em
2011.
“O futebol inglês, além de ser um
dos melhores, é um dos mais táticos do planeta, e eu custei um pouco
para me adaptar a isso”, admite ele. “Mas acho que serviu para aprender
sobre meu posicionamento. Lá eu aprendi que sou lateral e hoje estou
totalmente adaptado a jogar assim: numa linha de quatro homens na
defesa, com a primeira função de defender bem e, só quando for preciso,
atacar com qualidade. Tenho jogado assim com o (Vanderlei)
Luxemburgo no Grêmio, e isso é ainda mais verdade na Seleção Brasileira,
onde há sempre tanto talento do meio-campo para a frente.”
A ideia de André Santos quando aceitou voltar ao
Brasil
por empréstimo, no início de 2013, era justamente essa: encontrar seu
lugar no Grêmio, jogar bem pelo clube e, com isso, reencontrar um espaço
na Seleção Brasileira. O que nem ele esperava é que tudo fosse
acontecer tão rapidamente e que, pouco mais de um mês depois de sua
estreia com os gaúchos, já fosse estar em duas listas de Felipão, ainda
que listas contando exclusivamente com jogadores que atuam no país –
para os amistosos contra a Bolívia, em que foi titular da vitória por 4 a
0, e agora contra o Chile, nesta quarta.
Vendo André novamente com a camisa amarela, fica até difícil acreditar
que, até outro dia, só o que martelava sua cabeça eram as críticas que
vinha recebendo na Inglaterra. “Isso só prova quanto um jogador precisa
de confiança para render. É claro que eu não havia esquecido, de um dia
para o outro, o futebol que sempre tive”, conta o lateral, que, no
entanto, reconhece a força de seus concorrentes europeus na posição –
Marcelo (Real Madrid), Adriano (Barcelona) e Filipe Luís (Atlético de
Madri) – e, diante das experiências duras do passado, leva todo o bom
momento com calma. “Ganhar vaga na Seleção numa Copa não é nada fácil.
Só sei que tenho trabalhado demais e que estou feliz e motivado no
Grêmio e, se eu estiver assim, as chances na Seleção vão vir. E agora
vou encará-las com outra cabeça. Pode ter certeza.”Por Fifa.com